A Casa dos Ventos e a ArcelorMittal anunciaram nesta terça-feira, 18 de abril, a criação de uma Joint Venture para implantar o empreendimento eólico Babilônia Centro, de 554 MW, na cidade de Várzea Nova (BA). O investimento será de R$ 4,2 bilhões e a energia da usina, por meio de um contrato de 267 MW med, irá abastecer as operações da mineradora. o contrato é um dos maiores do Brasil. De acordo com Jefferson de Paula, CEO da ArceloMittal no Brasil, a JV une a maior produtora de aço e uma das maiores consumidoras de energia do Brasil a uma grande referência de energia renovável.

A ArcelorMittal vai consumir 90% da geração do parque. Ainda de acordo com De Paula, a decisão veio motivada pelo forte crescimento que a companhia terá no Brasil nos próximos anos, em que serão destinados R$ 7 bilhões em investimentos. O outro motivador é a decisão da matriz na Inglaterra, que quer liderar a descarbonização no mundo e tem metas de 25% de redução de CO2 durante a sua produção e ser carbono neutro até 2050. “Fazer investimentos em energia renovável é muito importante”, explica.

Para Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, a parceria tem uma estruturação inédita no país. A Arcelor tem 55% no projeto e a CDV, 45%. A mineradora e a empresa renovável irão implantar e operar o parque em conjunto, compartilhando as decisões sobre o empreendimento. “É um modelo que traz o consumidor como protagonista do seu processo de suprimento”, avisa. Ele lembra que o contrato é um dos maiores do Brasil, superior ao consumo de alguns estados. Serão 123 aerogeradores da Vestas e as obras devem começar no fim desse ano, para que no fim do 2025 ou começo de 2026 o ramp up das máquinas aconteça.

A opção pela JV trouxe vantagens, como na estruturação do financiamento do projeto e simboliza uma sinalização de direcionamento à transição energética. As duas empresas agregam uma garantia corporativa forte ao projeto, aumentando a capacidade e a robustez para o crédito. O financiamento deverá ser obtido via linhas do BNDES, mercado de capitais e BNB.

De Paula salientou que a opção pelo empreendimento eólico não veio apenas por conta de uma decisão estratégica em prol da energia limpa. Ele deixou claro que a taxa de retorno é interessante, chegando a ser superior que a de projetos de aço. “Estamos investindo na JV porque é estratégica e porque o valuation desse negócios tem uma taxa de retorno bastante interessante”, aponta.

No fim de março, a Casa dos Ventos anunciou a compra de 1,3 GW em turbinas da Vestas, que também abastecerão esse parque na Bahia. Para Araripe, essa compra por escala é uma das vantagens que o projeto apesentou. Atualmente, o cenário eólico é de alta nos preços dos aerogeradores, causada por impactos da guerra na Ucrânia e de redução de players no mercado brasileiro, com empresas paralisando a produção.

O parque irá representar cerca de 38% do consumo total da ArcelorMittal Brasil. A empresa já gera 50% da energia que consome, através da UHE Guilman Amorim (MG – 140 MW) e da UTE Tubarão (SC). De Paula conta que o otimismo impera pelas características técnicas do parque. Próximo ao parque, poderá ser desenvolvido no futuro um projeto solar de 100 MW, que será enquadrado na categoria híbrida. A usina se aproveitaria da mesma infraestrutura de Babilônia, capturando as sinergias. O parque eólico vai evitar a emissão de 208 mil toneladas de CO2 por ano.

Para alcançar as metas de descarbonização nos fornos, a intenção do CEO é usar mais energia renovável, carvão vegetal e gás natural. Na Europa, foram investidos US$ 300 milhões em um centro de pesquisa para desenvolver equipamentos e processos pare reduzir as emissões dos auto fornos. “Só com os [processos e equipamentos] atuais, a siderurgia não vai atingir o carbono neutro em 2050. Precisamos de investimentos em novos processos e equipamentos acoplados aos que já estamos usando hoje para produção”, pontua De Paula.